Você é responsável a priori ou a posteriori?





Temos uma forte candidata à marca registrada de 2019: a responsabilidade a posteriori. O que estou chamando de responsabilidade a posteriori é o senso ético e a atitude empática que tardam - e por isso falham. Eles despertam apenas quando já estamos diante de um erro consumado (e que poderia ser evitado).

De janeiro a março assistimos incrédulos a uma sequência de situações fatais que exemplificam a responsabilidade tardia. O rompimento da barragem em Brumadinho, o incêndio no CT do Flamengo, a morte de Pedro Henrique Gonzaga no supermercado Extra, as inundações caudadas pelas chuvas de março na cidade de São Paulo, ilustram o conceito. 

Mariana precedeu Brumadinho. A boate Kiss precedeu o CT do Flamengo. Inúmeros negros agredidos por um segurança despreparado em estabelecimentos comerciais precederam a agressão a Pedro. As águas de março fecham os verões desde há muito. Ninguém foi pego de surpresa em 2019. Ao contrário, repetimos péssimos exemplos de falta de prevenção, de treinamento, de fiscalização, de gestão de risco. 

Além de centenas de vidas roubadas, essas tragédias evidenciaram um mea-culpa padrão: “erramos, desculpe, vamos consertar tudo”. Assumir, lamentar e reparar erros é urgente, mas não suficiente. Precisamos ser responsáveis também a priori. Tratar a vida humana como valor supremo não pode ser uma medida de crise dentro de uma atividade econômica, mas sim a rotina.

Tão importante quanto a responsabilidade pelo erro (depois) é a responsabilidade pelo acerto (antes). Para garantir o acerto, a cultura corporativa deve promover a ética e a empatia desde o surgimento de uma ideia até a sua execução. Essa ideia é boa para quem, onde e quando? Quais são seus riscos e impactos? De que recursos disponho para contornar possíveis imprevistos? O que o passado nos ensina sobre isso? Nenhum projeto deveria avançar em uma empresa sem respostas sólidas a essas perguntas. 

Note: acertar não é apenas seguir a legislação, o manual de conduta ou protocolos internacionais, mas ter a dimensão humana como bússola, guiando todas as etapas do processo produtivo. Parece romântico? Não se imaginarmos o prejuízo (social, ambiental, financeiro e de imagem) em caso de problemas.

Outro questionamento estratégico: enquanto pai, filho, profissional, cidadão e consumidor, como me sinto sobre determinada ideia? Como alguém que é diferente de mim (outro gênero, cor, renda, idade, escolaridade) se sentiria em relação a essa ideia?

Quando colocamos a nós mesmos e o outro no centro da narrativa, o certo e o errado adquirem substância. Quando refletimos pela ótica da pessoa física em seus diferentes papéis e levamos em conta a diversidade, construímos soluções mais completas. O exercício da ética e da empatia não é fácil. No entanto, é obrigatório para a empresa e o para o profissional que buscam ser integralmente responsáveis pelo trabalho que realizam.

Por Abel Reis
Fonte: LinkedIn

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