VARIAÇÃO LÍNGUÍSTICA E ENSINO


Por que falar de variação lingüística?
Como você pôde ver, a concepção de linguagem que deve perpassar a prática do professor é a Linguagem como forma de interação. Nessa concepção, o professor deve respeitar a realidade dos alunos, sua origem, suas diferenças, enfim, o conhecimento que trás de casa.
Problema em relação ao ensino:
Tradicionalmente, a escola aborda o ensino de Língua Portuguesa como se todos falássemos de forma homogênea, sem nenhuma espécie de variação. No entanto, graças a inúmeras pesquisas na área, essa perspectiva vem se alterando e hoje muito tem-se discutido a respeito da variação lingüística e ensino.
Boa parte desse equívoco se deve à concepção “errônea” de que a gramática é suficiente para falar, escrever e ler com sucesso. (ANTUNES, 2007). Uma causa provável disso é acreditar que gramática e língua sejam a mesma “coisa”, porém não são. É importante lembrar que, quando os alunos chegam à escola, eles já possuem um conhecimento prático dos princípios da linguagem, cabendo à instituição de ensino desenvolver, ainda mais, esse conhecimento, torná-lo múltiplo e, cada vez mais, propenso à aceitação de novas idéias relacionadas à língua.
IMPORTANTE
Bagno (2004, p. 9) expõe que:
Ensinar português significa, na prática pedagógica tradicional, inculcar um conjunto quase interminável de prescrições sintáticas consideradas “corretas”, impor uma série de pronúncias artificiais que não correspondem a nenhuma variedade lingüística real, cobrar o conhecimento (ou, melhor, a memorização mecânica e estéril, a decoreba inútil) de uma nomenclatura falha e incoerente, junto com definições contraditórias e incompletas. Ao mesmo tempo, ensinar português é tentar convencer o aluno de que todas as formas de uso da língua – fonética, morfológicas, sintáticas, semânticas, lexicais – divergentes daquelas apresentadas na gramática normativa constituem erros, são “língua de índio”, são “fala estropiada”, ou simplesmente não são português.
Acesso o site https://marcosbagno.wordpress.com/sobre/ e conheça mais sobre esse grandioso escritor e pesquisador, Marcos Bagno.

Sabemos que, infelizmente, tal afirmação expõe a prática que por muito tempo foi explorada pelos professores de língua portuguesa.Não vamos deixar que isso ocorra em nossas práticas, ok! 
Conheça os quatro tipos de variação lingüística que você poderá encontrar em sua prática de sala de aula:
1. Variação geográfica ou diatópica
De acordo com Camacho (1988, p. 31) “numa comunidade lingüística relativamente extensa, onde todos falam o mesmo idioma, notam-se variações que se traduzem na forma de pronunciar os sons, nas construções sintáticas e no uso característico do vocabulário”.
Assim, cada região geográfica possui uma forma diferente na maneira de se expressar, por meio do vocabulário, do sotaque e outros fatores que distingue um falar de uma região para outra.
Veja  um vídeo com exemplos de diferentes variações geográficas existentes no Brasil:

Neste vídeo, o humorista demonstra como elogiar uma mulher de acordo com os falantes de diferenciadas regiões, demonstrando que cada um possui uma maneira distinta de expressar. É o que chamados de variação geográfica ou diatópic

1.2 Variação social ou diastrática
 A variação social é um dos tipos de variação mais marcante entre uma comunidade lingüística, pois é uma das causas dopreconceito lingüístico. Sabemos que a variedade dos falantes de nível social elevado é mais valorizada e, por outro lado, se estigmatiza a variedade das classes menos favorecidas.
São considerada s variedades dialetais de natureza social “os jargões profissionais ou de determinadas classes sociais bem definidas como grupos (linguagem dos artistas, professores, médicos, mecânicos, estivadores, dos marginais, classe social alta – econômica e/ou culturalmente , favelados, etc.)” (TRAVAGLIA, 2005, p. 45).
Além do nível sócio-econômico, existem outros fatores que determinam a formação de setores distintos de atividade verbal no interior de uma comunidade geograficamente homogênea, como o grau de educação, idade, sexo. (CAMACHO, 1988).
Ainda em relação à variação diastrática, verificamos a variedade que ocorre em decorrência da faixa etária distinta entre os falantes: crianças, jovens, adultos, idosos. De acordo com Travaglia (2005, 46), “durante a vida a pessoa passa de um grupo para outro, adotando as formas de um grupo e abandonando as do outro”. Assim, conseqüentemente, assume a fala que específica o grupo a que passa a fazer parte.
Exemplo  de diferença de faixa etária:
A gíria, que marca a fala dos adolescentes. No entanto, ele explica que, apesar de haver diferenças entre a fala de uma pessoa mais velha com a fala de um jovem, isso não quer dizer que o intercâmbio lingüístico entre eles seja prejudicado.
1.3 Variação histórica ou diacrônica Não podemos afirmar que duas variantes diacrônicas (históricas), a substituta e a substituída, não coexistam num mesmo plano temporal, uma vez que uma deve cair em desuso para que a outra sobreviva. É importante salientar que as mudanças ocorrem de forma lenta e conforme Faraco (2005, p. 14), “os falantes normalmente não têm consciência de que sua língua está mudando”. Assim, uma variante não deixa de existir de uma hora para outra.
No entanto, sabemos que existem palavras, expressões e construções que são consideradas arcaicas, pois, com o tempo, deixaram de ser usadas.
Porém, Camacho (1988) explica que algumas variantes em desuso ainda são utilizadas por alguns falantes de idade avançada, pois mantêm formas de expressão adotadas como prestigiosas pela norma pedagógica ou social de suas épocas.
Temos como exemplo de variação diacrônica as gírias da jovem guarda: broto, carango, legal, coroa, cuca, barra limpa, barra suja, lelé da cuca, mancada, pão, papo firme, maninha, pinta, pra frente e, "É uma brasa, mora?”.
Atenção: Esses exemplos são de variação diacrônica, mas também de variação social, pois indicam diferenças de faixa etária, ok.
1.4 Variação estilística
 Verificamos que existem diversidades lingüísticas que são marcadas pela variação social, geográfica, história, no entanto Camacho (1988, p.33) expõe que:
Não há falante de região e meio social homogêneos que fale sempre da mesma forma. Numa comunidade lingüística em que todos os membros tenham nascido e vivido no mesmo local e no mesmo âmbito social, a simples observação de sua atividade verbal revela diferenças notáveis de estilo, de acordo com a variação das circunstâncias em que o ato se produz.

Um indivíduo numa roda de amigos não terá o mesmo comportamento do que em uma reunião de trabalho, assim ocorre também com sua fala. O grau de reflexão sobre o que irá falar será diferenciado de acordo com a situação. Assim, a variação estilística é o resultado da adaptação da forma lingüística específica do ato verbal.
O falante, ao dizer algo, deve adequar a sua fala aos tipos de receptores. Nesse caso, convém refletir sobre o papel do professor. Muitas vezes o docente impõe a norma culta como a única aceitável, não considerando que existe uma variação estilística, que determina como cada falante deve se comportar diante as diferentes situações de sua vida.
Nenhum indivíduo consegue, a todo tempo, ter uma fala homogênea, como se a língua fosse uniforme em todos os momentos. Antunes afirma que “o bom uso da língua é aquele que é adequado às condições de uso” (2007, p. 104)
Fonte: UNOPAR
REFERENCIAS
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAKHTIN, Mikhail. Tema e significação da língua. In: ______. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Editora Hucitec: São Paulo, 1995.
BAKHTIN, Mikhail. A interação verbal. In: ______. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Editora Hucitec: São Paulo, 1995.
BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. 4º ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais: Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília : MEC/SEF, 1998.
CAMACHO, Roberto G.A variação lingüística. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídios à proposta Curricular de Língua Portuguesa para 8ª,1º e 2º anos. Coletânea de textos. São Paulo: SE/CENP, 1988, v. 1, 53-9, p. 29-41.
COSTA, Marco Antonio. Estruturalismo. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (org). Manual de Lingüística. São Paulo: Contexto, 2008.
FARACO, Carlos Alberto. Lingüística histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. 300p.
GERALDI, João Wanderley. Concepções de Linguagem e Ensino de Português. In: ______. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1984.
MARCHEZAN, Renata. Diálogo. In: BRAIT, Beth (Org). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005
SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica: 2004.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 10ª ed. São Paulo, Cortez, 2005.

Comentários