Frases mais marcantes de Umberto Eco, morto aos 84 anos...
Discutir a comunicação,
a cultura e a sociedade, aliadas às novas tecnologias, foi um dos motes
favoritos do escritor e intelectual italiano Umberto
Eco, morto
aos 84 anos nesta sexta-feira (19), em Milão (Itália). Ele sofria de câncer e
faleceu às 22h30 (horário local), em sua casa, segundo a família confirmou ao
jornal La Repubblica.
O sepultamento do corpo
do escritor acontece na próxima terça-feira (23), informou o La
Repubblica, adicionando ainda que o último livro de Eco, Pape Aleppe Satan, será lançado em maio.
Tido em seu país natal
como “o homem que sabia de tudo”, dado o seu grande
conhecimento, Eco apresentou muitas lições acessíveis por meio de frases
marcantes.
O HuffPost Brasil
compilou 17 delas não só como forma de homenagear esta figura marcante da
sociedade contemporânea, mas também para demonstrar que o mundo fica mais
pobre. Com o perdão do trocadilho, todos nós ‘perdemos Eco’.
“As mídias sociais deram
o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar,
depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam
imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito
à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu
o idiota da aldeia a portador da verdade”.
Depois de uma cerimônia
em que recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade
de Turim, em 2015.
“A internet não
seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao
internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e
corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso.
Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior
que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia.
Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos
parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”.
Em entrevista à Revista
Época, em 2011.
"Atribuem-me muitas
frases célebres de outros. Ou mesmo situações erradas como a que me atribuíram
há uns anos de que eu dissera que um escritor famoso tinha morrido e até o
jornal The New York Times me ligou para confirmar. Mas nem sempre confirmam se
é verdade, o que já não me incomoda porque acredito na fraqueza da memória das
pessoas. Sabemos sempre que no dia a seguir já nada é notícia".
Em entrevista ao Diário
de Notícias, de Portugal, em 2015.
“O livro ainda é o meio
ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade.
Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois
anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros
comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil
na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão
mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo
assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São
mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir
nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet”.
Em entrevista à Revista
Época, em 2011.
“O problema da internet
é que produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo. Faz-me
lembrar quando na ópera italiana é necessário imitar o ruído da multidão e o
que todos pronunciam é a palavra ‘rabarbaro’. Porque imita esse som quando
todos repetem ‘rabarbaro rabarbaro rabarbaro’, e o ruído crescente da
informação faz correr o risco de se fazer ‘rabarbaro’ sobre os acontecimentos
no mundo.”
Em entrevista ao Diário
de Notícias, de Portugal, em 2015.
“Eu pessoalmente gosto
de livros fáceis que me fazem dormir imediatamente”.
Em entrevista à Revista
Vogue, em 1995.
“Creio que o que nos
tornamos depende do que nossos pais nos ensinam em momentos estranhos, quando
eles não estão tentando nos ensinar. Nós somos formados por pequenos pedaços de
sabedoria”.
Trecho do livro Pêndulo
de Foucault (1988).
“Populismo midiático
significa apelar diretamente à população por meio da mídia. Um político que
domina bem o uso da mídia pode moldar os temas políticos fora do parlamento e
até eliminar a mediação do parlamento”.
Em entrevista ao jornal
americano The
New York Times, em 2007.
“Sou firmemente da
opinião que o Macintosh (denominação dos computadores Mac da Apple até 1997) é
católico e o DOS (sistema operacional usado em computadores pessoais nos anos
1980 e 1990) é protestante. De fato, o Macintosh é contra-reformista e foi
influenciado pelo ‘ratio studiorum’ (o plano de padronização da educação) dos
jesuítas. Ele é caloroso, amigável, conciliador, diz ao fiel como ele deve
proceder, passo a passo, para alcançar, se não o Reino dos Céus, o momento em
que o documento é impresso. Ele é catequista: lida-se com a essência da
revelação por meio de fórmulas simples e ícones esplêndidos. Todos têm direito
à salvação.”
Em ensaio de
1994.
“Essa é minha maneira de
contribuir para esclarecer algumas coisas. O intelectual não pode fazer nada,
não pode fazer a revolução. As revoluções feitas por intelectuais são sempre
muito perigosas”.
Em entrevista à Agência
EFE, em 2015.
“A aprendizagem não
consiste apenas em saber o que devemos ou podemos fazer, mas também saber o que
poderíamos fazer e, talvez, não deveríamos”.
Trecho do livro O
Nome da Rosa (1980).
“Na medida em que
envelheci, comecei a odiar a humanidade. Portanto, se eu tivesse um poder
absoluto, deixaria que ela continuasse em seu caminho de autodestruição. Ela
seria destruída e eu ficaria mais feliz. Pessoas como eu são intelectuais: nós
fazemos o nosso trabalho, escrevemos artigos, temos maneiras de protestar, mas
não podemos mudar o mundo. Tudo o que podemos fazer é apoiar a política de
empatia”.
Em coluna ao portal UOL,
em 2016.
“Assim eu redescobri o
que os escritores sempre souberam (e disseram-nos uma e outra vez): livros
sempre falam de outros livros, e cada história conta uma história que já foi
contada”.
“Eu passei a acreditar
que o mundo inteiro é um enigma. Um enigma inofensivo que é feito por nossa
própria tentativa de interpretá-lo, como se houvesse nele uma verdade
subjacente”.
“Todos os poetas
escrevem poesia ruim. Poetas ruins as publicam, poetas bons as queimam”.
"Nós temos um
limite, muito desencorajador e humilhante: a morte. É por isso que nós gostamos
de todas as coisas que nos parecem ilimitadas e, portanto, sem fim. É uma forma
de fugir dos pensamentos sobre a morte. Nós gostamos de listas porque não
queremos morrer".
Entrevista à revista
alemã Der
Spiegel, em 2009.
“Quando os homens
pararem de acreditar em Deus, isso não significará que eles não acreditam em
nada, mas que eles acreditam em tudo”.
Quem foi Umberto Eco
Pilar internacional de
toda uma disciplina, a Semiologia, que marcou os estudos de Comunicação
no mundo, Eco também deixa um imenso e singular legado sobre estudos de
estética. Eco foi antes de mais nada um intelectual brilhante e reconhecido por
sua obra sobre a estética medieval e sobre a filosofia da arte. Nascido em
Alexandria, nas imediações de Turin, em 1932, diplomou-se em Filosofia em 1954
na Universidade de Turin. Sua formação diz muito: discípulo do grande filósofo
antifascista Luigi Pareyson, defendeu uma tese de fim de
estudos sobre Thomas de Aquino, que seria publicado dois anos
mais tarde sobre o nome O Problema Estético em Tomas de Aquino.
Em pouco tempo, seu
brilhantismo o tornaria reconhecido em todo o mundo. Depois de publicar O Desenvolvimento da Estética Medieval, em 1959, Eco
mudou os rumos da crítica da arte no Século 20 com dois textos fundamentais: Obra Aberta, de 1962, e Apocalípticos e Integrados, de 1964.
Esses livros, somados a A Definição da Arte e a A Estrutura Ausente, são referências na compreensão da
história da estética, sobretudo no que diz respeito às relações entre a filosofia da arte, a linguística
e a comunicação de massa na segunda metade do século
passado. Para Eco, a estética não pode ser dissociada em diferentes ramos - não
há uma "estética da pintura", ou uma "estética do cinema".
Em Obra Aberta, o autor ajudou a romper com a ideia de
que um objeto artístico é algo acabado, com uma interpretação única e fechada
ditada pelo artista. Essa crítica, de "um novo modo de entender a relação
com a obra e sua fruição por parte do público", seria compartilhada então
por nomes como o poeta concretistaHaroldo de Campos.
Ao longo dos anos 1960,
Eco se transformaria em uma referência mundial na Teoria da Comunicação ao se
integrar à chamada Escola Sociológica Europeia, da qual faziam parte
nomes como Edgar Morin, Jean Baudrillard ou Roland Barthes. Esse grupo foi marcado por uma
visão menos negativa sobre os meios de comunicação de massa, dissociando-se das
críticas funcionalistas e da Escola de Frankfurt.
Tido como uma autoridade
nos meios acadêmicos, Eco se transformaria, ele próprio, em um exemplo de fenômeno
na cultura de massa com a publicação de um best seller mundial. Em O Nome da Rosa, de 1980, fez convergir em uma história
de ficção várias de suas áreas de interesse: a história, a filosofia, a
estética medieval e a semiótica. Sucesso extraordinário de público e crítica,
com mais de 17 milhões de livros vendidos, o thriller policial medieval venceu,
entre outros, o Prêmio Médicis de Melhor Romance estrangeiro em 1982. Em 1986,
seu livro foi adaptado para o cinema por Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery e Christian Slater.
O toque de ironia: sua
carreira tardia de escritor de sucesso só teve início graças à encomenda feita
por uma editora que desejava lançar livros policiais curtos e contemporâneos
escritos por "não-romancistas". Ao entregar o livro, Eco apresentou
um romance de suspense de mais de 500 páginas ambientado na Idade Média.
A carreira de
ficcionista continuou em 1988 com O Pêndulo de Foucault e a seguir em 1994, com A Ilha do Dia Anterior, romances cuja publicação foi
esperada em todo o mundo. Em 2015, em seu último romance, Número Zero, que se passa em 1992, Eco revê a história
de seu país a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, destilando sua fina ironia
sobre temas como a máfia, a corrupção e, claro, o jornalismo contemporâneo,
alvo de crítica mordaz.
Cínico, seu personagem
afirma no curso de uma reunião de redação: "Seria conveniente, para o
prazer de nosso editor, que nós encontrássemos um meio de lançar sombras de
suspeitas sobre esse juiz intrometido. Saiba que hoje, para responder a uma
acusação, não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o
acusador".
Mesmo crítico, Eco jamais abandonou sua paixão pela informação, pelo jornalismo e
pela comunicação - ele havia começado, em 1955, como
assistente em programas culturais da rede de televisão RAI. Ao longo de sua
vida, foi articulista assíduo e leitor inveterado da imprensa italiana e
internacional. Eco se dizia fiel à ideia de Hegel de que jornais são "a
reza cotidiana do homem moderno".
Até por admirá-la, o
autor lamentava a recente pulverização da informação nas novas tecnologias e,
sobretudo, a superficialidade de alguns veículos de mídia. "A imprensa
exigente deve aprofundar a atualidade, abrir espaço às ideias", pregou em
entrevista ao jornal Le Monde em maio passado, mostrando absoluta clareza de
raciocínio.
(Com Estadão Conteúdo)
Disponível
em: http://www.brasilpost.com.br/2016/02/20/frases-umberto-eco_n_9280762.html
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