Confiança para a aprendizagem

Estudos mostram que quando alunos estabelecem relações de confiança com professores, resultados de aprendizagem são melhores.

POR ANTÔNIO GOIS
Um bom professor não é apenas aquele que domina o conteúdo de sua disciplina e sabe como ensiná-lo. É também alguém preparado para construir relações de confiança com seus alunos. A afirmação soa óbvia, mas esse aspecto da formação docente nem sempre é valorizado pelos gestores da educação. Uma série de estudos recentes reafirma, porém, a importância de desenvolver no professor a capacidade de saber se relacionar bem com os estudantes. 
Um deles foi divulgado na semana passada pelo grupo educacional Pearson, que pesquisou em 23 países quais eram as características mais valorizadas por alunos, pais, professores e responsáveis pelas políticas educacionais em cada nação. Na resposta dos alunos brasileiros, características como ter paciência e se relacionar bem com os estudantes apareceram com mais frequência do que o conhecimento do assunto ou a habilidade de ensinar bem. (leia reportagem aqui no site Porvir)
Isso não significa que o conhecimento e a didática sejam menos importantes. Mas vários estudos reafirmam o quanto é fundamental para o estudante sentir-se bem na escola para que seu desempenho acadêmico melhore. Os mais recentes foram divulgados no mês passado num encontro da Associação Americana de Pesquisadores de Educação. (veja aqui uma reportagem sobre esses estudos)
Um deles, de pesquisadores das universidades de Chicago e Wisconsin, baseou-se num experimento com 1.190 alunos do ensino fundamental que foram divididos em dois grupos com as mesmas características. Um desses grupos, no início do ano letivo, recebeu cartas de supostos ex-alunos de sua escola com relatos sobre como eles se sentiram durante o período em que lá estudaram. As cartas continham depoimentos fictícios relatando sentimentos de jovens que teriam passado por situações de estresse, mas sempre enfatizando ao fim que os professores os ajudaram a superar esses problemas e tudo ficou bem. 
Ao final do experimento, o grupo que recebeu as cartas teve melhores notas e apresentou menores níveis de indisciplina e ansiedade, além de reportarem terem se sentido mais confiantes e identificados com sua escola. O ponto aqui, obviamente, não é que devemos enviar cartas fictícias para diminuir a ansiedade dos alunos. A lição que fica para a formulação de políticas públicas é que, quando os níveis de ansiedade dos alunos são menores e eles confiam mais na capacidade dos professores de ajudá-los, tanto seu bem-estar emocional quanto o desempenho cognitivo são significativamente melhores. A mensagem, portanto, é de que é preciso também se preocupar em como construir relações de confiança com os alunos.
O estudo em questão trata da realidade de estudantes americanos, mas suas conclusões são também válidas para o contexto brasileiro. Uma prova disso está na experiência, já relatada aqui na coluna, de três colégios municipais localizados em favelas de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. As escolas Haydea Fiuza de Castro, Maestro Heitor Villa Lobos e o Ciep 1º de Maio apresentam ótimos resultados de aprendizagem, mesmo trabalhando em áreas com elevados índices de pobreza e violência. A característica mais marcante em comum entre as três é a preocupação diária de trabalhar bem o lado emocional das crianças, antes de começar a ensiná-las os conteúdos tradicionais do currículo.
Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com/antonio-gois/post/estudos-mostram-que-quando-alunos-estabelecem-relacoes-de-confianca-com-professores-resultados-de-aprendizagem-sao-melhores.html

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