O maior meme de Einstein

Estou lendo mais um livro que abre com a frase: “‘A diferença entre passado, presente e futuro é uma ilusão, ainda que persistente’ — Albert Einstein”.
Ela é um dos melhores exemplos de meme no sentido original da expressão, criada pelo Richard Dawkins.
Um meme, nesse sentido, é uma peça de informação que ganha vida própria, e passa a se reproduzir fora do contexto original. Tipo o seu nariz — você morre, mas ele pode, e provavelmente vai, reaparecer nos seus netos.
Einstein não escreveu sua frase sobre a ilusão do tempo num livro. Não falou numa entrevista. Nada. Ele escreveu numa carta para a viúva de seu melhor amigo, Michelle Besso, logo após a morte dele. Era uma forma de consolar a ela, e a ele próprio, pela perda.
Mas isso não diminui a frase. A dor fez com que Einstein produzisse algo ímpar: uma interpretação poética da relatividade, segundo a qual o tempo não é absoluto; muda de ritmo dependendo da forma como a gente se movimenta. Logo, a uniformidade do tempo é uma ilusão.
Tal ilusão só fica clara quando você olha para o mundo sob a perspectiva de entidades que experimentam velocidades assustadoras (tipo um fóton, que vive a 1,08 bilhão de km/h; para ele, e o tempo não passa — um fóton pode ter 13 bilhões de anos de idade, mas do ponto de vista dele isso foi uma piscada).
Não somos fótons. Mas a mera ideia de que o tempo é uma ilusão pode, sim, ser reconfortante. Principalmente para lidar com perdas. Quase nenhum físico de hoje levaria algo assim a sério — o maior de todos, no entanto, levava.
Ainda bem, porque essa frase, sozinha, fez com que zilhões de pessoas se interessassem pelo que a física tinha a dizer sobre a natureza do tempo — e do espaço e das coisas. E tem feito esse trabalho incansavelmente há 100 anos. Para essa frase, afinal, tempo não é problema. Ela sabe que ele é só uma ilusão.
Fonte: https://super.abril.com.br/blog/alexandre-versignassi/o-maior-meme-de-einstein/

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