“Carta para minha mãe”

Por:  Gabriel Chalita
Título da  crônica publicada, hoje, no jornal O Dia – RJ.




Mãe, é seu dia.

Todo dia é seu.

Há um cordão que jamais foi cortado. Um cordão que liga os tempos da existência. E que se alimenta na energia do amor.

O amor vive em mim como um candelabro de alma. É possível iluminar se eu estiver disposto. Não poucas vezes me canso. E me prendo em outros fios. E não acendo a vela. E me perco nos escuros.  E aí me lembro de você. Do seu colo incandescente de força. E me levanto e recomeço. 

Você foi mudando, mãe. E permanecendo. Os anos vão trazendo despedidas. A infância se vai com uma pressa que impressiona. E, assim, as adolescências, os desabrochares, os encantamentos efêmeros. Sua força física também se despede, mãe. Os passos são mais vagarosos. O vigor mora mais na sabedoria que nos braços. E você me abraça. Quanta coisa cabe em um abraço! E você me beija como sempre. E falamos algumas falas antigas e outras que descobrimos recentemente. Tentamos dar um ar de novo ao que novo não mais é. E brincamos de futuros, juntos, permanecidos de afetos.

Você escolheu ser mãe. Você escolhe ser mãe todo dia. Todo dia você compreende as minhas imperfeições e prossegue me amando. E me alivia cansaços. E me lança pensamentos para que eu reconstrua o que se quebrou. 

Não há quebraduras em nossa história. 

Desde o tempo que me lembro, você celebrou a maternidade. A minha e a dos meus irmãos. Você reclamou a reclamação certa. Sem exageros. Seus cansaços eram espantados com um sorriso nosso. E aí você sorria o sorriso do amor mais puro. Amor de mãe.

Do seio ao colo. Do colo ao engatinhar. Do engatinhar ao caminhar. Do caminhar ao voo solo. E você acenando com lágrimas de entendimento. Cada filho tem o dever de descortinar o próprio mundo. De preencher a humanidade com sua humana vocação. De cantar o canto que você ensinou.

Sair de casa não é fácil. O ninho é tão bom. Os alimentos que nos robusteceram foram escolhidos um a um por você. E por meu pai. Gratidão à família que me gerou. Saudade do tempo, de todos os tempos vividos. Gratidão, mais uma vez. 

O amanhã está batendo à nossa porta, mãe. Só peço que você permaneça comigo para que possamos receber juntos o que vem. Assim fico mais seguro. Assim respiro a felicidade com mais garantia.

Mãe, é seu dia.

Todo dia é seu.

É demais repetir "eu te amo"? 

“Eu te amo, mãe”, com todas as experiências do passado, com toda a certeza do presente, com os medos e as esperanças pelo que virá.

Eu te amo, mãe.

Comentários