Aos 50 anos, mulheres são mais motivadas que aos 30, mostra pesquisa

Joana Mariani, participante da pesquisa | Hanna Vadasz / Divulgação
Pergunte a uma mulher de 50 anos como ela se sente no ambiente de trabalho. Estenda a questão a uma que tenha por volta dos 30. As respostas, quase antagônicas, podem revelar a motivação para quaisquer tarefas da primeira em contraste com a insatisfação da segunda. Mulheres entre 50 e 64 anos são mais realizadas e confiantes tanto em comparação às colegas mais jovens quanto aos homens da mesma idade. Em casa, no entanto, a ala feminina da chamada geração baby boomer colhe frutos menos doces da passagem do tempo. Nesse ambiente, elas tendem a declarar que se sentem menos seguras, cuidadas e assistidas.
As conclusões estão em pesquisa que ouviu mais de mil pessoas em todo o país. Coordenado pela antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo “A vez do feminino” mostra ainda que, nessa faixa etária, o que as mulheres querem mesmo é liberdade. Ao contrário dos homens, que privilegiam a convivência com a família e passam a exigir mais cuidado e atenção, reforça a antropóloga.
O que explica a diferença de sensação das mulheres da geração baby boomers entre a casa e o trabalho?
No trabalho, elas se sentem mais confiantes, motivadas, maduras e em uma fase de reconhecimento profissional. Elas valorizam a liberdade e a independência financeira que conquistaram. É também um espaço de realização, amizade e companheirismo para muitas pesquisadas. Já em casa, elas não sentem o mesmo reconhecimento. Cuidam da casa, dos filhos adolescentes (e até mesmo adultos), do marido e não recebem o reconhecimento que tanto desejam. Todos acham que ela faz apenas a sua obrigação, não elogiam e ainda reclamam. É um trabalho invisível. Elas sentem-se muito insatisfeitas e reclamam que não têm tempo para cuidar delas mesmas. Em muitos casos, o marido se aposentou e quer, segundo elas, "ficar em casa o tempo todo", o que significa mais trabalho para as mulheres.
Como essas sensações e impressões se configuram no comportamento mais rotineiro?
Elas consideram o tempo para si mesmas uma verdadeira riqueza, não querem - e não podem - desperdiçar tempo com o que não é importante. O tempo é um capital. Mais velhas, elas passam a priorizar o tempo para cuidar de si, o tempo da escolha, não da obrigação. Tornam-se mais seguras para dizer não para o que não querem mais em suas vidas, são mais conscientes do que querem e do que não querem. Muitas dizem que envelhecer é também se libertar da necessidade de agradar e cuidar de todo mundo, de ter medo da opinião dos outros. Dizem que é um momento de ser elas mesmas, mais livres e felizes com a própria vida.
A pesquisa não reforça o embate de gêneros?
Muito pelo contrário. Os valores mais desejados pelos pesquisados, pelos homens e mulheres, são considerados como femininos: solidariedade, generosidade, companheirismo, compaixão, acolhimento, compreensão, sensibilidade. Na verdade, são valores associados às mulheres por serem - como eles e elas afirmam - mais comuns de serem exercidos por elas. A pesquisa mostra que os homens também sofrem em um ambiente de trabalho em que comportamentos considerados masculinos são dominantes, como violência, agressividade, competição e egoísmo, entre outros. Eles também querem mudança. Os valores desejados não têm gênero, mas, como a pesquisa mostra, têm sido mais exercidos pelas mulheres. Elas e eles querem que o ambiente de trabalho incorpore esses valores que têm sido ignorados ou desprezados pelas empresas.
Como essas duas gerações de mulheres a que se refere a pesquisa podem se ajudar mutuamente?
As mulheres mais jovens, na faixa dos 20 aos 34 anos, estão muito mais insatisfeitas, frustradas, cansadas, inseguras, angustiadas, incompreendidas, desmotivadas e solitárias do que as de mais de 50.
São duas gerações tão distintas assim?
É interessante pensar que são duas gerações diferentes. As mulheres de mais de 50 são, ou poderiam ser, as mães das jovens da geração Y. Elas tiveram um longo caminho de lutas para conquistar uma maior liberdade e segurança profissional e pessoal. Elas passaram por inseguranças e insatisfações muito semelhantes. Além de ensinar, conversar e apontar caminhos, elas podem servir de exemplos e de inspiração para as mais jovens. E as mais jovens também podem ensinar muito às mulheres mais velhas, já que são parte de uma geração pós-revolução comportamental, com muito mais liberdade sexual, com muito mais informação e conexão com o mundo. Uma geração que cresceu com ideais mais igualitários e com muito mais consciência dos direitos das mulheres, e respeito às diferenças.
*A pesquisa "O Valor do Feminino" foi realizada por Molico
Fonte: http://blogs.oglobo.globo.com

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