O lado bom da educação pública brasileira
Por Gabriela Portilho, Renata
Massetti, Thaís Zimmer Martins
O cenário da educação no Brasil desanima. Só metade de quem
ingressa na escola pública termina o ensino médio. O nível de aprendizagem é
baixo: 65% dos alunos de 5º ano não diferenciam formas geométricas, como
círculos, triângulos e retângulos, e quase 70% no 3º ano do ensino médio não
identificam a informação principal em uma notícia curta. Os índices
educacionais nos deixam atrás de Cazaquistão, Albânia e dos vizinhos Uruguai,
Argentina e Chile.
Mas a 2ª edição da pesquisa Excelência
com Equidade (EE)*, divulgada este mês, revela que existe excelência onde não se espera: há 147
escolas públicas fundamentais dos primeiros anos (1º ao 5º ano) e 31
que incluem os últimos anos (6º ao 9º ano) com nível de
aprendizagem superior à média de Canadá e Suíça**.
"Existe um discurso de que alunos de comunidades pobres estão
fadados ao fracasso escolar. A EE mostra que isso nem sempre é verdade. Várias
escolas conseguem ser excelentes", declara
Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
“Mais que mostrar que é possível driblar as adversidades, queremos
identificar as boas práticas das escolas e mostrar como podem ser replicadas”,
explica Ernesto Martins Faria, coordenador da EE.
A SUPER viajou 6.500 km em duas semanas para visitar quatro dessas
escolas públicas que estão entre as melhores do Brasil. Com poucos recursos e
muito trabalho - compartilhado entre pais, mestres e autoridades -, esses
recantos de excelência educacional colecionam lições para semear pelo País.
A escola é uma família
Em Pedra Branca (CE), com pouco mais da metade dos 40
mil habitantes alfabetizados, uma escola se destaca como uma das melhores do
país. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) nos anos finais
da EEF Miguel Antonio de Lemos é o mais alto das quatro escolas
que visitamos: 8.9.
A "escola de Amaral", como é conhecida, não aparece no
GPS. Fica em um sítio a 18 km da cidade, no meio do sertão. Porcos, jumentos e
bois rodeiam a escola, e a agricultura local é de subsistência, com vários
alunos ajudando os pais - na maioria, não alfabetizados - na lavoura:
Acesse o link e veja o vídeo:
Quebrando muros
O que quase ninguém sabe é que, em meio aos condomínios de luxo da Barra
da Tijuca, Rio de Janeiro, está uma das melhores escolas públicas da
cidade. Avaliada no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) com
nota 6,7, a Rodrigues Alvez ficaacima da média das escolas particulares no
Brasil. Quem frequenta as aulas, na maioria, são filhos de porteiros,
empregadas domésticas e vigias que trabalham na região.
Estudando em turno integral, os 228 alunos alunos têm acesso
a disciplinas extras, as chamadas "eletivas". Apesar da
Rodrigues Alves ser destaque no país, os estudantes enfrentam preconceito dos
moradores da região. Mas eles e os professores se uniram para mudar isso:
Acesse o link e veja o vídeo:
Uma escola não é uma ilha
Até 2007, as escolas de Novo Horizonte, a 410 km de São Paulo, não
eram diferentes do estereótipo da escola pública no Brasil: grades nos
corredores, cadeiras quebradas, muros pichados, alunos fora das salas e índices
de desempenho baixos. A mudança começou quando as escolas passaram das
mãos do Estado para as do município.
Um dos pioneiros na mudança foi o colégio Profª Hebe de Almeida
Leite Cardoso. Os alunos ocuparam a escola, reduzindo a evasão. Em
2014, nenhum aluno largou a escola - no Brasil, em 2014, cerca de 450 mil
alunos deixaram a escola nos anos finais:
Acesse o link e veja o vídeo:
Oásis no sertão
Em 2001, quando uma avaliação estadual mostrou que 48% das
crianças entre 9 e 10 anos de Sobral não sabia ler nem escrever, e, ainda
assim, avançava nas séries, criando uma bola de neve de deficiência na
aprendizagem. Para isso, o Estado articulou uma grande reforma na política
educacional.
Hoje o município é referência em educação. E a escola municipal
Gerardo Rodrigues se destaca entre as 21 de Sobral. Mas fora dos portões,
o desafio persiste. A cidade aparece no Mapa da Violência entre os 100
municípios com as maiores taxas de homicídios entre adolescentes de 16 a 17
anos. Na escola, o tema da violência é recorrente entre os alunos que relatam
histórias de colegas ou conhecidos que perderam a vida nas disputas entre
traficantes:
Acesse o link e veja o vídeo:
No momento em que você acredita numa escola de qualidade, você tem
que começar a fazer parte daqueles que vão modificar essa
realidade,coordenadora Maristela Motta (Rio de janeiro - RJ)
*
Pesquisa realizada pela Fundação Lemann, com apoio do Itaú BBA e do Instituto
Credit Suisse Hedging-Griffo ** Saeb 2013 e Pisa 2012.
Fonte:
http://super.abril.com.br/ideias/conheca-o-lado-bom-da-educacao-publica-brasileira
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